O futebol é um desporto maravilhoso, mas pode ser terrível para os seus intervenientes.
De entre eles, dificilmente há quem tenha vida mais difícil do que os treinadores – são endeusados quando os resultados são bons, bodes expiatórios quando chegam as derrotas.
O trabalho dos técnicos depende do contexto, mais do que qualquer outro ator da modalidade.
Se o sucesso será duradouro ou se é sol de pouca dura, depende muitas vezes de se um treinador é novidade em determinado clube/liga, ou de se há um processo de erosão, cansaço ou acomodação.
Neste artigo falamos de alguns treinadores de futebol que só tinham a ganhar com uma mudança de ares.
Tentamos explicar o porquê da necessidade de mudar, o que deveriam procurar em seguida e quais os seus possíveis destinos.
Os 3 treinadores de futebol que precisam de mudança:
1. Diego Simeone – Atlético de Madrid
Porquê Simeone?
No futebol moderno é raro, absurdamente raro, ver um técnico tantos anos no mesmo clube, especialmente nas equipas de topo.
Apesar de ser o treinador mais bem-sucedido de toda a História do Atlético de Madrid – e de provavelmente merecer uma enorme estátua no Wanda Metropolitano – há um desgaste visível no comando de Simeone.
O argentino, que este ano até se procurou reinventar, peca invariavelmente por teimosia nas suas ideias para os colchoneros.
Se na La Liga as boas campanhas continuam a acontecer, na Champions League o Atlético parece cada vez menos capaz de lutar pelo troféu, mesmo após investimentos avultados.
Os 10 anos de Simeone à frente do Atlético Madrid serão sempre das páginas mais bonitas do clube, mas não há como negar que ambas as partes só podem melhorar se tiverem a coragem de, finalmente, se divorciar.
O que deveria procurar?
Simeone tem hoje um estatuto muito superior ao que possuía antes da chegada a Madrid.
No próximo desafio, o técnico dificilmente poderá aceitar menos do que uma equipa de Liga dos Campeões.
Pelo seu histórico no futebol, identidade futebolística e modelo de jogo, a Serie A parece ser o destino ideal para Diego.
Depois de ter treinado uma equipa na qual foi um ícone como jogador, é inevitável que o mundo deseje ver um novo reencontro com uma equipa onde foi adorado como atleta.
A Lazio de Roma pode estar perto de terminar a sua própria história de amor com Simone Inzaghi e uma junção entre Simeone e os laziale seria demasiado bonita para não acontecer.
Possíveis destinos: Lazio.
2. Mourinho – Tottenham
Porquê o Mourinho?
É frequente vermos Mourinho a sentir um rápido desgaste em todos os sítios por onde passa, mas não tão rápido como ao comando dos Spurs.
Mourinho aceitou comandar uma equipa que não era clara candidata ao título, que tinha uma relação muito próxima e vincada com o técnico anterior e com uma clara crise de identidade.
A esta distância, o que chegou a parecer excitante, está mais do que visto que é um divórcio à espera de acontecer.
Na Premier League a luta por lugares de Champions League está cada vez mais complicada, a cada época que passa, e Mourinho precisava no Tottenham de algo que nem ele, nem o clube, parecem estar dispostos a ter: tempo, muito, muito tempo.
O que deveria procurar?
Mourinho é um dos treinadores de futebol mais titulados de sempre, tem um carisma inigualável e ambição não lhe deve faltar.
Mas as portas começam a fechar-se, depois dos últimos projetos em que o português pegou (segunda passagem pelo Chelsea, Man Utd e agora Tottenham).
O PSG pareceu, durante anos, o destino perfeito, mas o lugar está agora tomado por Pochettino.
Na Alemanha, Mourinho só aceitaria o Bayern, mas essa é uma cadeira muito longe de estar vaga.
Em Inglaterra todos os clubes de topo estão tomados. Descer de nível também não parece uma opção.
Neste momento, há duas opções que podem parecer absolutamente loucas, mas até fazem sentido:
– Por um lado, o regresso ao Real Madrid, se Zidane decidir sair no fim da época, num casamento em que ambas as partes estariam na mesma página.
– Por outro lado – e acompanha aqui o raciocínio – Mourinho pode surpreender tudo e todos ao aceitar treinar um adversário de um dos clubes por onde passou. Atlético de Madrid, se Simeone sair, ou Juventus, onde Pirlo não deve durar muito.
Ambos os projetos receberiam Mourinho de bom grado e poderão ser as únicas opções para o técnico de Setúbal continuar a carreira ao mais alto nível.
Possíveis destinos: Atlético Madrid ou Juventus. Inter, se Conte decidir sair depois de ser campeão.
3. Ten Hag – Ajax
Porquê Ten Hag?
O Ajax é um clube maravilhoso, um autêntico gigante na Holanda e Ten Hag não poderia estar mais feliz com o nível de controlo e de conforto de que goza no seio da instituição.
Posto isto, será muito difícil Ten Hag vir a lutar por mais do que a Eredivisie, ano após ano, dada a relação de forças do futebol moderno entre países centrais e periféricos.
Erik Ten Hag é um treinador especial!
É um deleite ver o seu Ajax e em todas as épocas vemos novos e excitantes jogadores a aparecer para colmatar as saídas das estrelas que o técnico forma.
No entanto, a Eredivisie começa já a ser demasiado pequena para Ten Hag e grande parte da Europa está mais do que interessada nos seus serviços.
É um daqueles casos em que o treinador de futebol não precisa de uma mudança de ares, mas em que ela será inevitável.
O que deveria procurar?
A filosofia de Futebol Total de Ten Hag cabe em qualquer clube capaz de respeitar a filosofia do holandês e de lhe dar carta branca nas contratações.
De Espanha a Inglaterra, passando pela Itália ou Alemanha, qualquer liga pode ser um bom destino.
Há, ainda assim, clubes mais apetecíveis que outros, seja pela composição do plantel, seja pelas ligações a uma determinada identidade futebolística.
Barcelona já foi muito feliz com Michels, Cruyff e Rijkaard. Se decidir dispensar Koeman, Ten Hag é o primeiro homem cujo telefone vai tocar, certamente.
Na Alemanha há o hábito de apostar em técnicos holandeses, mas só uma hecatombe tirava Hansi Flick do Bayern, e Dortmund e Leipzig já têm técnicos para a próxima época.
Em Itália a Juventus deverá ter uma vaga, mas é muito, muito difícil que a equipa de Turim decida arriscar na escolha de um técnico com um estilo tão próprio depois do falhanço que foi Sarri.
À primeira vista, resta uma possibilidade… enigmática. O Tottenham de Inglaterra, se Mourinho decidir mesmo sair (ou for despedido).
A equipa é jovem, ainda não esqueceu o futebol de Pochettino e Ten Hag teria recursos suficientes para levar para Londres o seu Totaalvoetbal.
Possíveis destinos: Tottenham ou um projeto de segunda linha, como Roma, Nápoles ou Gladbach.