Depois de uma época de 2020 cheia de percalços e adaptações ao contexto da pandemia, o Campeonato do Mundo de Rally (WRC) volta com a normalidade possível para a temporada de 2021, com ajustes tanto no calendário como nas equipas.
No que toca aos eventos previstos, o WRC só sai do continente europeu a partir do meio do ano.
Suécia, México, Turquia e Reino Unido saem do calendário, Bélgica, Croácia e o Rali do Ártico, na Finlândia, fazem a sua estreia, e Portugal, Quénia, Finlândia, Chile, Catalunha e Japão voltam a fazer parte do calendário, que repete Sardenha, Estónia e Monte Carlo em relação ao ano passado.
A prova que dá início à temporada, como sempre, é o histórico Rally de Monte Carlo, um dos mais fascinantes eventos do campeonato, com inúmeros pontos de interesse, 5 dos quais destaco abaixo.
5 pontos de interesse no Rally de Monte Carlo:
1. Percurso
A edição deste ano do Rally de Monte Carlo, com início a 21 de janeiro, mantém a sua base em redor de Gap, sendo que esta será a edição mais curta de sempre, com uma extensão de aproximadamente 280 km, em comparação com os 304 km do ano passado.
Esta tem sido a tendência desde 2018, quando a prova se desenrolou ao longo de quase 400 km.
No entanto, este encurtar de distâncias não retira interesse à prova, até porque este ano o percurso foi revisto e será 85% novo em relação ao ano passado, o que implicará uma nova adaptação por parte dos pilotos.
2. Condições
Monte Carlo é conhecido pelas condições adversas e imprevisíveis que os pilotos enfrentam ano após ano.
Um pequeno erro de cálculo ou momento de desconcentração podem levar o carro a deslizar pelo gelo para fora de estrada, sendo que raras vezes o carro acaba mesmo por não conseguir voltar.
Estas condições tornam ainda mais preponderante uma escolha acertada e perspicaz de pneus, ciência muito difícil de dominar e na qual a experiência é essencial.
3. Sébastien Ogier
Esta é sem dúvida a prova de Sébastien Ogier. O Francês venceu 6 das últimas 7 edições, sendo que apenas no ano passado Thierry Neuville conseguiu interromper a série de vitórias de Ogier.
O facto de esta ser a única prova do calendário que se realiza em França, ainda por cima em Gap, de onde o piloto francês é natural, dá a este evento uma importância especial, sendo que o próprio Ogier admite que esta é a prova mais importante do campeonato, para ele.
Como se tudo isto não bastasse, o heptacampeão mundial tem neste momento o recorde conjunto de vitórias em Monte Carlo, com 7 vitórias, as mesmas que Sébastien Loeb, pelo que, sendo este o suposto ano de despedida do campeão em título, será também a última oportunidade para se tornar o recordista isolado de vitórias no seu rally.
4. M-Sport
Das 3 equipas que competem atualmente no WRC, a mais afetada pela situação pandémica foi sem dúvida alguma a M-Sport/Ford.
Sendo esta uma equipa privada, sem apoio de um construtor, como é o caso da Toyota e Hyundai, Malcolm Wilson teve a ingrata tarefa de fazer uma ginástica financeira que tornasse possível manter a equipa em competição.
A solução acabou por levar à saída de Esapekka Lappi, o piloto principal da equipa no ano passado, e o único com capacidade para pontuar regularmente.
O próprio admitiu que, nesta fase da carreira, não faria sentido estar a pagar para competir, pelo que optou por se retirar de cena, pelo menos esta época.
Gus Greensmith, com bolsos mais fundos, terá direito a ser o único piloto a tempo inteiro, apesar de ser o que menos resultados apresentou até agora, com Teemu Suninen e Adrien Fourmaux a partilharem o outro carro, sendo que será Suninen a competir pela equipa principal em Monte Carlo.
Resta saber se a M-Sport será novamente irrelevante para todas as contas do campeonato, ou se os seus pilotos conseguirão subir o nível em tempos de adversidade.
5. Transição
Este será um ponto de interesse em todos os eventos desta temporada, mas num tão histórico como o de Monte Carlo ganha uma importância ainda maior.
Para o bem ou para o mal, o WRC mudará drasticamente a partir do próximo ano, com uma das maiores alterações de sempre relativamente às especificações dos carros.
A tecnologia híbrida vai entrar em cena, sendo que em princípio será usada apenas nas ligações entre especiais e deslocações de e para o parque de assistência, embora esteja a ser ponderado o seu uso inclusive dentro de certas etapas.
Os regulamentos vão também mudar no sentido de tornarem os carros menos dispendiosos e promoverem a participação de mais marcas no campeonato.
Será que a performance se vai manter? O espetáculo vai ser o mesmo? O barulho dos carros vai ser diferente?
Estas são algumas das questões que os adeptos da modalidade colocam, e cuja resposta temem.
Pelo sim pelo não, mais vale aproveitar ao máximo o espetáculo deste ano.