Títulos, estrelas, prémios.
A La Liga é a competição mais bem-sucedida do século XXI, com uma grande distância.
Na Champions League, 9 vencedores em 20, com múltiplos finalistas vencidos. Na Liga Europa, 11 vencedores em 20. Supertaça Europeia foram 12 em 20.
Entre Zidane, Ronaldinho, Cristiano e Messi, as Bolas de Ouro foram quase sempre entregues a jogadores vindos da La Liga.
Barcelona e Real Madrid dominaram, durante muitos anos, o panorama do futebol europeu.
De repente, tudo mudou.
Primeiro saiu Guardiola e o tiki-taka entrou em declínio.
Depois, Neymar foi-se e levou consigo uma boa parte da magia. Mourinho também saiu. Cristiano Ronaldo foi-se embora e arrastou multidões de interesse para fora da liga.
Na Champions, as equipas espanholas deixaram de dominar, ou sequer ser uma ameaça.
Agora, Messi vai para o PSG.
Há vida na La Liga no pós-Messi?
O mau
Muita coisa mudou em Espanha para esta temporada, além da saída de Messi.
A La Liga instituiu uma espécie de fair play financeiro interno que obriga os clubes a cumprirem rígidos tetos salariais e a não investirem mais do que a receita gerada.
O Real Madrid, que perdeu Sérgio Ramos e Varane, apenas conseguiu contratar Alaba (custo zero).
O Barcelona incorporou Aguero, Depay e Eric Garcia (todos a custo zero), mas à custa da perda de um melhores jogadores de todos os tempos e na sequência de uma época mediana e com um plantel curtíssimo.
De repente, perderam-se os galácticos, os jogadores que sozinhos enchem estádios, os crónicos candidatos a Bola de Ouro.
Até nos bancos, e apesar da qualidade, Koeman e Ancelotti não atraem o mesmo interesse de Pep, Klopp, Mourinho ou Tuchel.
O bom
A La Liga pode ter perdido muitas estrelas e parte do glamour, mas por uma boa causa.
As últimas décadas em Espanha foram completamente dominadas por Barcelona e Real, com dois títulos suados do Atleti de Simeone.
Na Champions tornaram-se monstros competitivos, mas à custa da perda de competitividade interna e do forte declínio de outros clubes históricos.
Enquanto Real e Barcelona passeavam na Liga, onde ficou o mítico Valência?
O Sevilla fez dos melhores trabalhos de sempre no mercado, mas nunca conseguiu sequer competir pelo top-3.
Celta, Athletic ou Villarreal viveram entre o inferno e a mediania. O Bétis tornou-se um clube de culto por quase chegar à Champions.
Durante anos e anos, os standards foram tão elevados no topo que 95% da Liga parecia não existir.
Ter o Barcelona e Real a cumprirem critérios financeiros rigorosos e a não conseguirem gastar mais do que geram só vai contribuir para o aumento da competitividade da Liga.
A longo prazo, essa é a grande notícia para nuestros hermanos, não a perda de Messi.
A Serie A dos anos 90 ou a Premier League da década de 2010 são ligas de referência por causa da competitividade.
Por cada equipa ter vários jogadores que podem mudar o jogo.
Por não se fazer ideia de quem pode ser campeão ou descer de divisão. Porque foram praticamente uma espécie de NBA do futebol europeu.
O “ainda estamos para ver”
Há uma guerra no futebol espanhol atual entre a gestão da La Liga (de Javier Tebas) e as direções de Barcelona e Real Madrid.
Depois de terem tentado formar uma Superliga Europeia, Barcelona, Atlético e Real Madrid mostraram ao que vinham.
Queriam uma fatia ainda maior das receitas. Queriam mais dinheiro para suportar os custos que tinham.
Ao serem obrigados a baixar o investimento, ambos os clubes têm-se unido e estão a reagir negativamente às novas medidas.
Podem Tebas e os demais clubes espanhóis aguentar a pressão mediática dos 3 grandes e levar adiante o projeto de nivelar a liga?
Aceitarão os gigantes de Madrid e Barcelona um novo estado das coisas, em que deixam de ser campeões antecipados, em nome de um maior interesse externo pelo campeonato espanhol?
É uma equação complexa, sem dúvida.