48 jogos depois, o Euro 2020 está pertíssimo do seu fim.
Football’s coming home ou a surpresa viking? La bella Italia, ou la furia roja?
Faltam apenas 3 partidas para termos um novo campeão da Europa e dificilmente alguém teria acertado, há um mês, nas equipas que chegariam a esta fase.
Esta é a nossa análise às meias-finais da prova.
Dinamarca X Inglaterra
A Dinamarca continua a sua caminhada improvável.
O que começou num filme de terror, rapidamente se transformou em conto de fadas.
Em 1992, já de férias, os dinamarqueses foram chamados a jogar o Euro porque a Jugoslávia, então em guerra civil, saiu da competição.
Michael Laudrup, o melhor jogador da equipa, nem se deu ao trabalho de ir jogar a prova. O que se seguiu foi uma das mais bonitas histórias do futebol, com os dinamarqueses a sagrarem-se campeões europeus.
Hoje, como em 92, a equipa também não tem o seu melhor jogador (Eriksen) e continua a bater adversário após adversário num Europeu de futebol.
Hjulmand, o treinador dinamarquês, é provavelmente a grande surpresa deste Euro. Apaixonado por Guardiola, apresenta dinâmicas táticas que quase só vimos usadas pelo catalão e nunca em equipas tão modestas.
Os alas invertidos, a movimentação do avançado, a largura no ataque. Esta Dinamarca pode ser a equipa com menos estatuto das meias-finais, mas é a que mais joga como equipa grande.
Isso nunca ninguém poderá tirar aos rapazes de Hjulmand.
Ora, isto leva-nos à Inglaterra.
É a única seleção destas meias-finais que nunca conseguiu vencer um Europeu de futebol.
Na verdade, nunca passaram das meias-finais, sequer, pelo que uma vitória inglesa culmina automaticamente na melhor participação de sempre em Euros.
Pé ante pé, a Inglaterra tem feito o melhor Euro de entre todas as equipas. Não sofreu um único golo, nunca esteve sequer perto de perder o controlo e nos quartos-de-final despachou a Ucrânia no jogo mais desequilibrado daquela fase.
A Inglaterra é uma equipa de equilíbrios. No processo defensivo juntam duas linhas de 4 homens e Kalvin Phillips no meio destas a fazer as compensações.
Ofensivamente, e ao contrário do último Mundial, a equipa não projeta os laterais de forma tão clara e aproveita muito mais a habilidade de Harry Kane como playmaker para procurar movimentos de rutura nos outros avançados.
É uma seleção de múltiplos recursos no ataque e que defende melhor do que há 2 anos, apesar de o fazer com menos homens.
No encontro entre as duas equipas, há que pensar no factor Wembley.
Os ingleses estão motivados e de regresso a casa.
Wembley estará com muito mais gente do que na fase de grupos e os ingleses são imbatíveis a criar um ambiente no estádio, dentro do contexto europeu.
A favorita é a Inglaterra – pelo estatuto, por jogar em casa, pelos valores individuais e pela prova que tem feito até agora.
A Dinamarca, quer queiramos ou não, ainda não apanhou verdadeiramente uma equipa que fosse clara favorita no encontro.
Isso torna-a uma incógnita gigante, especialmente numa fase do torneio em que a palavra favorito conta menos do que noutras fases.
Ainda assim, esta é uma meia-final em que os ingleses têm a palavra – depende de si venceram-na ou perderem.
Espanha X Itália
Nem parece assim, mas esta é a clássica final-antecipada-antes-da-final.
9 em cada 10 adeptos parecem apoiar a Itália por esta altura.
É uma consequência natural de ver uma equipa ultrapassar largamente as expectativas face ao início do torneio.
As últimas décadas de squadra azurra têm sido medianas e a surpresa foi grande quando o mundo se apercebeu que os italianos continuam a ser gigantes do futebol.
Há todo um lado psicológico e emocional da coisa. Os italianos despertam paixões porque cantam o hino a plenos pulmões. Porque deixam transparecer emoções. Porque disputam cada lance como se fosse o último.
Isto são tudo fatores que ajudam os adeptos a aproximarem-se da equipa e a vê-los como underdogs.
Nada mais longe da verdade, no entanto. Os italianos não são uma equipa de desfavorecidos que chega aqui pela sua alma.
São uma equipa muitíssimo bem trabalhada por um técnico experiente, com imensa qualidade em todos os sectores e que neste Verão veio para fazer um grande Euro.
Não têm culpa de que a Europa do futebol estivesse a dormir para as grandes épocas de Spinazzola, Barella, Immobile ou Chiesa. Não têm culpa de que só agora verdadeiramente se preste a Insigne a atenção que merece.
Não foi por eles que se deixou de prestar atenção aos centrais italianos quando surgiram Van Dijk ou Ruben Dias. A Itália é, de facto, uma das melhores equipas do torneio e está aqui por grande mérito próprio.
A Espanha está numa situação com alguns pontos de contacto – dos espanhóis espera-se sempre que joguem bem e sejam perigosos. Matreiros, até.
Numa convocatória sem Ramos ou Piqué, sem Xavi ou Iniesta, os adeptos sabiam que a Espanha podia dar-se bem na competição, mas não esperavam que assim fosse. Tal como no caso italiano, é tudo uma questão de expectativa.
A própria Espanha tem sido uma equipa de altos e baixos, muitas vezes dentro do mesmo jogo. Começou o Euro sem conseguir marcar golos, até decidir marcar uma mão-cheia deles numa só partida.
Parecia estar a esmagar a Croácia, até se deixar surpreender e chegar a um prolongamento em que, de facto, esmagou. Depois, quando todos esperavam que os espanhóis tivessem aprendido a lição, deixou-se equilibrar pela Suíça e só os penalties salvaram a equipa de Luis Enrique.
No confronto entre as duas equipas, é difícil fazer um prognóstico. São ambas fortíssimas, capazes de vencer a competição. Podemos ter um jogo equilibradíssimo ou um claro domínio de um deles.
Tudo verdades de La Palisse, se quisermos, mas sem que deixem de ser verdades.
Há uma diferença entre as duas equipas, no entanto. Enquanto a Espanha tem andado num carrossel de altos e baixos, a Itália tem sido a equipa mais constante do Euro (a par dos ingleses).
Se os italianos ficarem por aqui, é certo que ninguém vai querer saber dessa constância, mas até lá, até que a bola comece a rodar, é do lado dos italianos que está um ligeiro favoritismo.