Dinamarca 92. Grécia 2004. Portugal 2016. O que têm todas estas seleções em comum?
Foram campeãs europeias sem que fizessem parte do grupo das favoritas. Os Campeonatos Europeus de Futebol são prolíficos em surpresas, bem mais do que em certezas.
O de 2020 não tem escapado à regra e os oitavos-de-final viram a eliminação de Portugal, França, Países e Alemanha, ou seja, mais de metade das favoritas à vitória final.
Com um olho no passado e outro no futuro, vamos à nossa antevisão dos quartos-de-final do Euro 2020!
Suíça X Espanha
Este jogo dos quartos-de-final será disputado entre duas equipas que estiveram envolvidas numa das tardes mais espetaculares da História do futebol.
A Suíça eliminou a França nos penalties, depois de ter empatado 3-3. A Espanha venceu a Croácia 5-3, após prolongamento.
Ambos os jogos estiveram praticamente decididos antes de deixarem de o estar. A Suíça fez uma recuperação milagrosa frente à França, ao passo que a Espanha deixou que a Croácia conseguisse empatar mesmo perto do fim.
Em termos físicos e mentais, ambas as equipas se encontram no mesmo ponto: até podem ter algum cansaço nas pernas, mas a cabeça ainda exulta com os oitavos-de-final.
No papel, a Espanha é obviamente favorita. É a equipa com maiores pergaminhos e produziu 10 golos nos 2 últimos jogos, depois de muito ter demorado até marcar um golo neste Euro.
Os espanhóis têm um meio-campo de luxo – como sempre – e a moral está em alta. Em termos táticos, a partida vai ser interessante.
Os espanhóis, como sabemos, adoram ter bola e controlar os tempos de jogo, irritando o adversário. Dependem muito da capacidade de trabalho de Morata, bom a atacar profundidade e a lutar com os centrais.
Movimentos de rutura a partir de diagonais para o interior são a principal arma da Espanha, com Ferran Torres, Sarabia e Pedri entre os principais alvos desta dinâmica do ataque.
A Suíça é uma equipa de equilíbrios no meio do caos – começa os seus jogos quase sempre de forma compacta e a procurar a profundidade de Embolo ou o jogo apoiado e chato (no bom sentido) de Seferovic.
É uma seleção consciente das suas forças e fraquezas e entende bem o que fazer em cada momento do jogo. No banco, Petkovic é um selecionador fenomenal que vem de um maravilhoso jogo de xadrez frente a Deschamps.
Prognóstico: Espanha.
Bélgica X Itália
Duas equipas que chegam de jogos complicados nos oitavos, ainda que nunca tivessem estado verdadeiramente perto de serem eliminadas.
A Itália ultrapassou a Áustria com dificuldade, no fim de um prolongamento que se seguiu a um jogo onde os italianos foram realmente postos à prova pela primeira vez nesta competição.
A Bélgica levou de vencida Portugal depois de um golo extraordinário de Thorgan Hazard e de ter aguentado a pressão lusa até ao apito final.
Ambas fizeram jogos com mais suor que fantasia. Este é, no papel, o jogo mais equilibrado destes quartos-de-final. Ambas as equipas faziam parte de um lote de segundos favoritos e ambas venceram todos os jogos disputados até agora no Euro 2021.
Da Bélgica era a grande a desconfiança em torno do envelhecimento dos seus principais jogadores recuados e da Itália muito se falou da falta de faísca no seu futebol.
Taticamente deve também ser o confronto mais entusiasmante desta fase. Roberto Martínez, o espanhol que treina a Bélgica, é adepto de um jogo paciente com tentativas de saídas rápidas para o ataque.
A Bélgica é das equipas no mundo que melhor ataca o adversário em contra-golpe. Quando se tem Lukaku na frente e os irmãos Hazard, mais Carrasco e De Bruyne, fica mais fácil jogar também de forma apoiada se o adversário a isso obrigar.
Das duas equipas, a Bélgica é a mais capaz, a menos unidimensional.
A Itália, por seu turno, faz extraordinariamente bem aquilo que se propõe fazer. É a equipa com maior capacidade de trabalho e concentração desta competição e joga num 4-3-3 clássico, à imagem do seu treinador, com um olho sempre presente no ataque à profundidade.
É um tanto ou quanto incompreensível que, neste contexto, Chiesa não seja presença titular no XI italiano, mas isso é algo que deverá mudar ante a Bélgica.
Prognóstico: Bélgica.
República Checa X Dinamarca
Este é o encontro das duas surpresas deste Euro.
A Dinamarca porque conseguiu ultrapassar a derrota do primeiro jogo (em que era fortemente favorita) e a perda da sua principal estrela para colocar todos em sentido com um futebol de ataque que tem apaixonado adeptos por todo o lado.
A República Checa, porque fazia parte de um grupo com Croácia, Inglaterra e Escócia (com os escoceses a jogar em casa) e ainda teve de lidar com a Holanda nos oitavos. Não era suposto nenhuma das seleções estar aqui e, no entanto, uma delas será semi-finalista do Euro 2020.
Tal como no Espanha X Suíça, ambas as equipas se encontram no mesmo estado: ultrapassaram os seus adversários com facilidade e nos 90 minutos. Estão ambas frescas das pernas e entusiasmadas mentalmente.
Com um estádio cheio em Baku, a única contrariedade é igual para ambas, também: a viagem até ao Azerbeijão. As semelhanças terminam por aí, no entanto. Taticamente, são duas equipas distintas.
A República Checa é uma equipa de linhas juntas que gosta muito da dimensão física do jogo e que conta, depois, com um dos melhores avançados da actualidade na frente, Schick.
O checo consegue dar aos colegas várias soluções em virtude da sua velocidade e capacidade técnica. No meio-campo, Soucek e Barak são a alma da equipa e um perigo constante nas chegadas à área e procura de movimentos de ruptura.
Já a Dinamarca tem um futebol mais recortado.
Tendo perdido a sua grande referência de organização – Eriksen – os dinamarques adoptaram um estilo paciente, em que Delaney e Hojberg organizam o jogo a partir de trás e fazem as devidas coberturas na defesa, permitindo a Maehle e Wass darem largura a um ataque onde Damsgaard tem sido uma dor de cabeça para os adversários em virtude da sua capacidade de drible.
Apontados à baliza podem estar Braithwaite, Dolberg ou Poulsen, homens que trazem coisas muito distintas ao jogo, mas que têm em comum o facto de providenciarem à equipa o que ela necessita: golos.
Prognóstico: Dinamarca.
Ucrânia X Inglaterra
Nós avisamos no artigo de antevisão do Euro e até no nosso Discord, a Inglaterra é a maior candidata a vencer o Euro.
Não o é de agora, é-o desde o início da competição. Por isso mesmo, vamos começar por nos repetirmos face ao que foi dito anteriormente.
O que é que pode parar a Inglaterra, então?
Esta seleção inglesa parece poder ser parada apenas por si própria e pelos velhos vícios da imprensa sufocante e das expectativas exageradas. Southgate construiu uma base muito sólida e os jogadores compõem um grupo fortíssimo.
A fase de grupos será toda jogada em casa, bem como as meias-finais e a final. Tudo joga a favor dos ingleses.
Poderão os adeptos e os tabloides, por uma vez, ser um fator positivo?
A resposta é isto, até agora, foi clara. E é um sim rotundo.
Os adeptos e a imprensa de Inglaterra têm sido forças de apoio numa caminhada que pode não estar a ser de grande brilhantismo, mas tem sido de crescimento sustentado e anti-surpresas.
A Ucrânia é uma equipa talentosa e está nos quartos-de-final por mérito próprio, tendo feito 3 belíssimos jogos até agora neste Euro, mas muito dificilmente conseguirá eliminar os ingleses no Olímpico de Roma.
A Inglaterra sofreu 0 golos em 4 partidas e a organização defensiva dos homens de Southgate – que em 2021 até adotou um sistema de 4 defesas – tem sido a melhor deste Euro.
De resto, Kane&Co. fazem um jogo de paciência no ataque, procurando constantemente movimentos de ataque à profundidade, de rutura entre os canais e de aproveitamento dos espaços entre os laterais e os centrais adversários.
Ainda há que ter em conta o perigo que são nas bolas paradas e a fantasia que pode sempre sair do banco (onde se têm sentado Rashford, Sancho e Grealish).
Prognóstico: Inglaterra.