Atletas brilhantes. Ícones culturais.
A combinação é explosiva e resulta normalmente em ídolos de infância, entradas em livros de História e outro tipo de manifestações de paixão.
Esta é uma série de artigos que traz a história de várias destas personalidades e tenta explicar porque foram atletas de eleição, ícones da cultura pop e qual o legado que deixaram. Dela não fazem parte atletas ainda em atividade.
Neste artigo falamos de Julius Irving, uma lenda do basquetebol.
O Atleta
Julius Irving foi um dos maiores basquetebolistas de sempre e um dos atletas de maior destaque nos anos 70 e 80.
Numa carreira profissional que durou entre 1971 e 1987, Erving jogou pelos Virginia Squires, New York Nets (atualmente Brooklyn Nets) e pelos 76ers. Foi duas vezes campeão pelos Nets e uma pelos Sixers. 16 vezes All-Star, 4 vezes MVP.
Enquanto atleta, o impacto foi tão grande que tem a sua camisola retirada tanto em Brooklyn como em Philadelphia, para além da UMass, universidade onde estudou.
Erving era um atleta dotado. Várias vezes o melhor marcador da liga, era também um dos melhores defesas que a liga já viu na sua posição (small-forward). Tinha uma combinação poucas vezes vista até então, porque juntava rapidez, agilidade e força.
Em que é que Erving foi absolutamente único, do ponto de vista desportivo? Afundanços.
Antes de Erving, os adeptos e jogadores consideravam que afundar a bola era uma demonstração de desrespeito pelo adversário, sem validade estratégica. Erving demonstrou que os afundanços eram uma componente estratégica do jogo, porque anulavam a chance de um desarme.
Para além disto, Erving não afundava necessariamente com força pura – os seus afundanços eram bailados, demonstrações de agilidade e equilíbrio. Também por isso, todos queriam ser Julius Irving, nos anos 70.
O Ícone Cultural
Até agora chamámos sempre Julius Irving ao atleta, mas o mundo conhece-o sobretudo por Dr J. Dr. J foi um ícone cultural por variadíssimas razões.
Antes de mais, já era uma lenda do basquetebol antes de sequer ser profissional. No Rucker Park, em Nova Iorque, Irving tornou-se num dos jogadores mais falados de sempre do street basket. A cultura afro-americana de basket e bairros sociais que tinha o seu epicentro no Harlem tinha em Dr. J a sua maior referência.
Ainda adolescente, Erving já era conhecido por Black Moses e Houdini, até que finalmente ficou com a alcunha de Doctor. A sua fama nas ruas foi anterior à sua fama nos courts e ainda hoje atravessa o coração de Nova Iorque.
Dr J foi a primeira verdadeira estrela do basquetebol mundial. Numa época em que o basquetebol americano estava dividido em duas ligas (ABA e NBA) e quase a entrar em bancarrota, Irving trouxe público aos pavilhões, patrocinadores para a liga e maior interesse na transmissão televisiva.
As primeiras sapatilhas assinadas por um atleta, algo comum hoje em dia, foram de Dr. J. Umas Converse que permitiam aos fãs emular o ícone e à NBA faturar muito dinheiro.
O penteado, as capas de revista, as sapatilhas, os afundanços e a rua. Dr. J foi e é uma enorme figura de culto nos Estados Unidos da América e na cultura Afro-Americana.
O Legado
Poucos desportistas, no basquetebol ou fora dele, podem orgulhar-se de ter o legado de Dr. J.
O Slam Dunk Contest, o concurso de afundanços da NBA, nasceu por causa de Julius Irving e dura até aos dias de hoje, sendo uma enorme atração para fãs e adeptos da modalidade.
Mesmo que não tivesse feito mais nada, só isto já lhe valia um legado enorme. Mas há mais, muito mais.
As sapatilhas assinadas por atletas existem porque Irving abriu o mercado. Fez questão de voltar à Universidade para terminar o seu curso, quando terminou a carreira, impulsionando muitos atletas a fazer o mesmo e valorizar a educação.
Em Philadelphia, onde terminou a carreira, abriu várias fábricas e postos de trabalho para a população local.
Fundou uma equipa de NASCAR que competiu durante 3 anos, com o único propósito de aproximar a comunidade afro-americana do desporto automobilístico, algo que estava quase vedado por estereótipo.
Na cidade de Nova Iorque, a Meca do basket, liderou os Nets aos seus únicos dois títulos até esta data.
Dr. J foi um basquetebolista brilhante, um homem admirado em todos os cantos do planeta e uma das figuras mais cool do desporto profissional.