Em Anfield Road, Dortmund ou até em Roterdão, é comum ouvirmos You’ll Never Walk Alone cantada em uníssono por milhares de adeptos.
É uma imagem de marca do Liverpool e quase um momento sagrado para os adeptos de futebol, sejam eles adeptos dos reds ou dos rivais.
Poucas coisas no desporto são tão respeitadas como esta canção – e consequente mote.
Como apareceu, como viajou até ao futebol e quem a adotou são as questões que aqui trazemos.
A Origem de You’ll Never Walk Alone
O facto de o centro da indústria cinematográfica não ser em Hollywood, como se tornaria anos depois, e a existência de uma ligação muito próxima aos espetáculos da Broadway fazia com que, nos anos 40, os musicais fossem um dos formatos favoritos do cinema americano.
Nesse contexto, uma das duplas mais famosas do cinema era a de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, responsável por êxitos como Oklahoma!, King and I e o inconfundível Música no Coração.
Um outro sucesso desta dupla foi Carousel, um musical de 1945 com uma narrativa em torno de uma história de amor com um final trágico para os protagonistas.
É no desfecho do filme que aparece aquela que seria uma das composições mais famosas de Richard Rodgers, You’ll Never Walk Alone.
A adoção pelo Liverpool F.C.
Apesar do sucesso do filme e da canção, You’ll Never Walk Alone não foi adotada de imediato pelos adeptos de futebol. Só quase 20 anos depois do sucesso nos Estados Unidos da América é que uma banda inglesa, de Liverpool, decidiu fazer uma cover pop-rock da composição.
Em 1963, Garry & The Pacemakers, que tinham em comum com os Beatles a cidade, o produtor, a editora e o empresário, lançaram a música como single do seu primeiro disco e o sucesso foi imediato, liderando o top por várias semanas.
O que se seguiu foi um crescimento rápido e orgânico daquele single junto dos adeptos de futebol.
Em Anfield Road, o estádio do Liverpool, os fãs dos reds entoavam a música frequentemente – primeiro, do lado de fora do estádio, antes da entrada para os jogos; depois, do lado de dentro, quase em uníssono, num ato que se tornou tão singular e emotivo que levou a direcção do clube a adicionar a frase aos portões de entrada de Anfield, primeiro, e ao símbolo do próprio Liverpool F.C, depois.
Reza a história que num encontro entre Gerry Marsden (o vocalista dos Gerry & The Pacemakers) e Bill Shankly, o icónico treinador do Liverpool dos anos 60, Gerry agradeceu a Bill pelos sucessos que tinha trazido para a cidade, ao que o treinador retorquiu “Garry, eu dei-te uma equipa, mas tu deste-nos tudo o resto”.
Outros clubes que a usam
Em nenhum outro local do mundo You’ll Never Walk Alone tem uma ligação tão forte a um clube desportivo.
De Cruyff a Thierry Henry, de Platini a Xavi, muitos foram os protagonistas do jogo a reconhecer que há algo de único em ouvir a canção entoada por mais de 40 mil adeptos em Anfield Road.
Isto não impediu, no entanto, que a canção se tenha celebrizado noutros estádios de futebol.
Os dois maiores clubes que também a adotaram fizeram-no no mesmo ano e pela mesma razão.
Em 1966, o Celtic de Glasgow defrontou o Liverpool nas meias-finais da Taça das Taças e o impacto daquele momento foi tão grande junto da equipa e adeptos escoceses que levaram consigo o hábito para casa.
Na mesma competição, mas já na final, o Borussia Dortmund encontrou o Liverpool e o resultado prático foi o mesmo.
De lá para cá, os adeptos entoam a canção antes de cada jogo europeu no Celtic Park e no Signul Iduna Park, os estádios do Celtic e do Borussia Dortmund, respectivamente.
A lista de clubes que, ao longo das últimas décadas, têm incluído a canção no seu reportório é enorme e com tendência para crescer: Twente, Mainz, Club Brugge, Lugo, PAOK ou FC Tokyo, no futebol, para além de outras equipas de hóquei no gelo e rugby.
Pela melodia, mas sobretudo pela letra, You’ll Never Walk Alone tornou-se bem mais do que uma mera canção.
É um hino no futebol, em protestos sociais e até se tornou num objecto importante de união em torno dos profissionais dos serviços nacionais de saúde um pouco por toda a Europa, durante a crise do COVID-19.
Uma canção que, à imagem do seu título, nunca ficará sozinha.