Ontem fizemos referência ao quão fantásticos estes playoffs têm sido e de como temos tido uma nova geração de jogadores a afirmar-se em grande plano no maior palco de basquetebol do mundo.
Pois bem, hoje é dia de antever a final da conferência Este e, claro, falar de Trae Young e dos seus Atlanta Hawks.
Com um dos plantéis mais jovens da liga e 5 dos seus jogadores mais utilizados abaixo dos 24 anos de idade (apenas Gallinari tem mais de 28 na rotação habitual), ninguém esperava que a história de sucesso dos Hawks chegasse tão longe, mas assim foi.
A equipa de Atlanta deu espetáculo frente aos Knicks, mostrando desde logo que não era só uma história bonita da fase regular. Trae Young deixou o seu nome marcado no Madison Square Garden, para muitos a meca do basquetebol, com prestações incríveis que só não serão ainda mais históricas, pelo que veio a seguir – a vitória frente aos Sixers, enormes favoritos à conquista da série e 1ºs classificados da fase regular.
Agora o desafio é ainda maior – os Milwaukee Bucks de Giannis Antetokounmpo têm a qualidade e experiência de um candidato ao título e, depois de vencerem os Nets de Kevin Durant nas meias-finais da conferência, certamente não lhes faltará confiança.
Só que os Bucks têm também a pressão. Tem-na Mike Budenholzer que dificilmente resistirá a uma eliminação frente aos Hawks. E têm-na Giannis, Middleton ou até Jrue Holiday que, depois de passar pelos pingos da chuva frente aos Nets, tem aqui uma oportunidade para se redimir e mostrar que foi a aposta certa por parte dos Bucks.
Uma coisa é certa, este confronto pode ser surpreendente – mas tem tudo para ser um grande espetáculo. Vamos então tentar prever como as coisas se poderão desenrolar dentro de campo.
Milwaukee Bucks vs Atlanta Hawks
É importante dizê-lo desde já: os Bucks são favoritos indiscutíveis a ganharem esta série, ainda mais do que eram os Sixers nas meias-finais de conferência, e tudo o que não for uma vitória da equipa de Milwaukee será um feito incrível dos Hawks… e um falhanço enorme de Giannis e companhia.
Os Bucks têm um plantel completo, com um dos 5 melhores jogadores da liga, um dos 5 melhores defensores de perímetro e provavelmente o melhor “não-all-star” da liga em Giannis, Holiday e Middleton, respetivamente. Mas na verdade, nada disto é um argumento tão grande como o facto de terem eliminado os Nets.
Se é verdade que a ausência de Kyrie e o condicionamento físico de Harden tiveram bastante impacto, o nível apresentado por Kevin Durant foi por si só um motivo suficiente para tornar os Nets um adversário temível.
Num passado recente e já com o núcleo forte de Giannis, Brook Lopez e Middleton, os Bucks foram eliminados contra adversários em teoria acessíveis.
No ano passado, os Heat conseguiram anular Antetokounmpo e os Bucks nunca conseguiram criar oportunidades de qualidade contra a defesa móvel e elite no 1×1 da equipa de Miami. Middleton foi o único a carburar e do outro lado do court faltaram os argumentos para travar a fluidez ofensiva.
Em 2019, foram os Raptors a ser o carrasco dos Bucks, tendo também conseguido anular Giannis com um esquema defensivo muito competente, desafiando qualquer outro jogador a vencê-los.
Nem Middleton, nem Brogdon ou Bledsoe (ambos fora da equipa atual) foram capazes de o fazer.
Os Bucks aprenderam com os erros do passado
Este ano, parece pouco provável que voltemos a ver um desfecho semelhante, seja às mãos dos Hawks ou até de um adversário nas finais – Giannis tem estado absolutamente imparável e a equipa de Atlanta dificilmente tem armas para o travar.
Contra os Nets, apenas num jogo ficou abaixo dos 30 pontos. De resto, Giannis conseguiu sempre impor o seu físico e a sua presença na área pintada e, a partir daí, desbloquear todo o jogo ofensivo dos Bucks.
Os Hawks são uma equipa com postes muito competentes no ataque, tendo em Collins e Capela dois voadores natos que são dos melhores finalizadores da liga. Mas defensivamente, as coisas não são assim tão fáceis.
Collins é um jogador móvel que tem feito grandes progressos na leitura de jogadas e nas ajudas defensivas… mas é muito mais fraco que Giannis e não está habituado a lidar com jogadores que combinem a sua mobilidade, força e agressividade.
Capela é um poste dos tempos modernos, com tamanho e envergadura para perturbar Giannis debaixo do cesto e mobilidade suficiente para não ser uma passadeira no perímetro… desde que os colegas ajudem.
Se ajudarem? Há lançadores, há Middleton e há Holiday. Não é ideal.
Depois destes dois nomes, não há qualquer outra solução viável. E se os problemas dos Hawks começam em Giannis, não acabam por aqui. Trae Young é já um dos melhores jogadores ofensivos da liga, mas é também um dos piores a defender.
Contra os Bucks, não haverá esconderijo possível para ele. Holiday e Middleton vão parecer super-estrelas se forem defendidos por Young. Lopez, um role-player nos dias que correm, não teria problemas em lançar por cima dele ou levá-lo para debaixo do cesto.
Connaughton não pára de correr sem bola e os Bucks certamente vão procurar colocar Trae no máximo de bloqueios possível. O mesmo serve para Forbes. Resta apenas PJ Tucker… mas mesmo Tucker pode funcionar como um bloqueador, forçar Young a trocar ou simplesmente atacar o ressalto ofensivo.
Os Hawks podem (e provavelmente devem) procurar formas inventivas de defender. Recorrer à zona, forçar 2 contra 1, principalmente quando apenas 1 ou 2 de Giannis, Holiday e Middleton estejam em campo, tentar dar sempre muito espaço a Giannis e formar uma barreira contra o mesmo.
Nada disto é ideal, mas poderá, ainda que a espaços, resultar.
Não seria a primeira vez que Middleton sucumbiria nos playoffs e Holiday acabou de passar 40 minutos do jogo mais importante da sua vida a jogar com a confiança e qualidade de um 12º jogador.
Quem ajuda Trae Young?
Do outro lado do campo, as perspetivas são mais risonhas para os Hawks. A receita é simples: atacar Brook Lopez nos bloqueios diretos e rezar para que Young e companhia estejam com a mão quente.
Young não é Kevin Durant, mas é um incrível lançador e playmaker que não vai hesitar em punir qualquer troca que deixe Lopez contra si num 1×1. Caso os Bucks escolham evitar essas trocas, Collins e Capela deverão estar sempre perto do cesto, prontos a criar o caos e finalizar qualquer passe do base da equipa.
Nas alas, em teoria, não deverão faltar atiradores. Huerter, Bogdanovic, Gallinari ou Lou Williams, 2 destes deverão estar sempre prontos a estender o court para Young e os seus parceiros do bloqueio direto.
O problema é que na prática as coisas podem ser diferentes: o estado físico de Bogdanovic é incerto e Lou Williams é o último jogador que os Hawks querem ter em campo ao mesmo tempo que Young, quando for hora de defender.
Junte-se a isto o facto dos Bucks terem sempre 3 ou 4 defensores muito competentes no 1×1 em campo e as coisas começam a complicar ainda mais para a equipa de Atlanta. Holiday tem a capacidade de fazer a vida negra a qualquer base – em 2018 destruiu completamente Damian Lillard, numa das mais impressionantes performances defensivas numa série de playoffs em anos recentes.
Debaixo do cesto nunca é um local seguro para finalizar contra os Bucks, com Lopez e Giannis sempre por perto.
Os Hawks devem ter esperança até ao fim… do jogo 5
Posto isto, a chave para os Hawks está claramente na sua capacidade de concretizar lançamentos.
Como já dissemos antes, é preciso rezar, não só para que Young esteja com mão quente de 3, mas para que Bogdanovic esteja apto, para que Gallinari repita a série dos Sixers (em que por vezes pareceu entrar na máquina do tempo), para que Huerter dê o salto que tem prometido até aqui e se torne num verdadeiro segundo marcador de pontos de uma equipa de topo e até mesmo para que Young consiga concretizar os seus floaters e utilizar a sua perícia a sacar faltas, de forma a colocar os Bucks em perigo.
Há ainda a possibilidade de vermos uns Bucks relaxados, eles mesmos com a mão fria longe do cesto, a não conseguirem massacrar a inferioridade física destes Hawks e a terem dificuldades em marcar a sua superioridade desde o início de cada jogo.
Jogos equilibrados até ao final dão uma ligeira esperança a Atlanta, já que Young tem os argumentos para em qualquer noite dominar os minutos finais de um jogo através do seu lançamento e capacidade no 1×1.
Mas os Bucks sabem que esta é uma oportunidade única, não só de chegar às finais da NBA, mas também de vencer o título. Sem qualquer desrespeito pelos Suns, os quais elogiamos muito ontem, ou os próprios Clippers, dificilmente haverá um caminho mais “fácil” para o título num futuro próximo.
Os Hawks deverão ver a sua capacidade de lançamento e a magia de Trae Young resultar em pelo menos uma vitória, mas demasiadas coisas teriam de correr bem para seu lado para terem alguma chance nesta série.
Assim sendo, os Milwaukee Bucks deverão avançar para a final da NBA.